domingo, 6 de janeiro de 2008

Noche de San Juan


Envolveu-a um silêncio ensurdecedor. Entraram três figuras indistintas para aquele palco rústico de madeira, sentaram-se. E começaram a tocar...

…from Gata

As primeiras notas, de som rasgado, solto e sem medo, começaram a ecoar, e lentamente a preencher todos os espaços escondidos, na penumbra daquela sala. E no entanto, todo o ar sombrio e misterioso, daquele lugar, começou a ganhar cor, e outra alma, entrando-lhe pelo ouvido, chegando-lhe a sentidos que não saberia descrever, por mais que tentasse compreender. Deixou-se levar lentamente, por aquelas notas soltas, mas não perdidas…

De repente, um arrepio…
Um dos músicos, que lhe tinha prendido atenção, mal tinha entrado, retribuiu-lhe um olhar…
Ela disfarçadamente, desviou o olhar, e ficou mais um bocado a absorver, as notas cada vez mais soltas, libertas de qualquer amarra ou pressuposto, tocavam livremente, sem regras ou fronteiras, apenas ao vento daquilo que sentem, e com isso transmitiam algo sem igual, num já vivo espaço, que vibrava a cada nota…
A sala continuou a ganhar vida e deixaram de ser três músicos a tocar para um público, para passarem a ser um todo, vivo, rejubilando livremente, sem receio e sem amarras…

Os olhos, voltaram-se a cruzar, desta vez sem medo e sem disfarçar, o músico com um ligeiro aceno de cabeça, começou a libertar notas como se não houvesse amanhã, sem nunca libertar, no entanto, nem por um segundo que fosse, o olhar…
Vieram-lhe à cabeça as palavras já não tão soltas, do rapazito…

- No dude en encontrar-se com su suerte…

E entrou num estado de transe, deixando-se levar por todos os seus sentidos, entregando-se por completo ao som que daquela sala, obscura mas com vida, emanava…
E foi levada, num ambiente, para ela estranho e acolhedor a voar, para além do mundo real, até ao mundo da música, sentida e não tocada de cor, até à última nota, saída daquele palco, que ficou, durante tempos eternos, a ecoar, pela sala…

O silêncio invadiu de novo a sala, com ele a escuridão e a realidade. Preparava-se já para se levantar, quando um lenço, deslizou suavemente pela sua cabeça e seu rosto, virou-se rapidamente, e arrepiou-se novamente, quando viu que era o músico…

- Hola Señorita…





...read also Gata, Carlos Lopes, Viajante

5 comentários:

Carlos Lopes disse...

Há arrepios que não se esquecem, porque se tornam eternos. Excelente, Lobo. Muy bien.

Anónimo disse...

Apaixonaste-a.......????

Arrepios ao ler-te a falar de música....

Beijo Wolf.

Obrigada

Viajante pelos Sentidos disse...

Olá Lobo...
Adorei... adoro histórias de paixão à primeira vista e de sentidos à flor da pele...

Um beijo viajante...

Anónimo disse...

Ahhhhhhhh... não se faz fazer sonhar com ...salero...

Até me apetece dizer... aúúúúúúúúú!!

Beijos!

Viajante pelos Sentidos disse...

Claro que podes espreitar... as minhas viagens são para partilhar... os meus textos são convites a viajar...

Obrigada pela visita. Espero-te mais vezes...

Beijo viajante...