Alguém começou...
E vindo de alguém..
- // -
Carlos... O teu presente de Natal está cá dentro... Não precisas fazer perguntas. Tudo o que procuras está aqui. Aqui esteve à tua espera, durante 20 anos. Entra... esta é a tua casa.
As vizinhas calaram-se, boquiabertas...
Virei-me, estarrecido, gelado, embrutecido. Não queria acreditar! Era o...
- Quim?
- Sim Carlos sou eu...
- Mas... - ainda estava atordoado e tornei a desmaiar...
Quando acordei, recordei o cheiro, o espaço, o calor, da lareira...
Estava deitado no sofá, que conhecia bem, sentado numa cadeira a olhar para mim, o meu melhor amigo de infância, o Quim. Andamos sempre juntos, e embora ele fosse mais novo que eu 4 anos, sempre o considerei como um irmão. Aprendi tudo contigo Carlos, costumava dizer, mas na verdade, eu é que aprendia muito com ele...
- Quim és mesmo tu? Mas como? Se ainda agora me disseram que não morava cá ninguém?
- Calma Carlos, com calma que eu explico-te tudo, tem paciência.
- Tens razão, desculpa, se há alguém que aqui tem que ter paciência sou sem dúvida eu...
E falou...
E contou...
Sempre me disseram que os sonhos são uma espécie de premonição, nunca acreditei. Até agora...
A Teresa sempre estava grávida, e teve uma menina...
Não se chamava Inês, mas sim Angelina...
O Quim sempre amigo, apoiou muito a Teresa, mas nunca deixou, tanto ele como ela que nada se passasse, respeito, por alguém que talvez não o mereça, pensei eu...
A Teresa tentou continuar a sua vida, e teve amores e desamores, acabando sempre por ficar sozinha, dizia que estava amaldiçoada contou o Quim...
Porém com o passar dos anos o Quim acabou por se afastar um pouco, e havia "reatado" à dois anos atrás, e ao deparar com a Angelina mulher, linda como a mãe, inevitavelmente, acabou por se apaixonar...
Casaram o ano passado...
E tiveram uma filha, Matilde...
Faz amanhã um mês...
E este ano decidiram vir passar o primeiro natal da Matilde à casa onde a mãe cresceu...
- As tuas prendas - disse o Quim - a tua filha, a tua neta e eu teu genro...
- Isto é demais para um homem só, - disse - aquele que há 20 anos destruiu a sua vida, agora sei isso...
- E a Teresa a Angelina e a Matilde onde estão? - perguntei
- Só chegam amanhã de manhã, foram à cidade, às compras e ao pediatra...
- Mas está tudo bem? - interrompi eu
- Está, consulta de rotina, não te preocupes... Agora vou-te deixar, pensa bem, amanhã falamos...
O meu quarto...
A minha vida, estava toda aqui, nos pedaços que uniam a casa, que transformavam tudo em lembranças, ali cresci, e é em parte aquilo que hoje sou...
Andei, passeei, revi, relembrei, reconheci...
À noite não tive sono, sentado no sofá da sala, olhei, e ali a um canto, estava ele, imponente como só eu o sabia ver, o piano onde tantas vezes me perdi e sonhei...
Abri a tampa, à parte de uma ou outra corda não muito afinada, continuava com o som que sempre teve, e embora há já 20 anos que não tocava, as notas começaram a sair...
O tempo passa, mas o que realmente importa é imortal, não desvanece, nem ao magistral tempo...
Encontrei folhas pautadas, velhas mas vazias e comecei a escrever...
Velhas notas, mas sem idade, novos sons, com o tom dos que sempre soube, dedos velhos, mas ainda não mortos, melodias passadas, com ouvido no tempo...
Compus toda a noite...
Adormeci, no sofá com o nascer do dia...
Dormi umas horas, e acordei...
Fiquei ali sentado, parado, durante o tempo que não sei, a pensar...
Até que pela porta entrou a Teresa, sozinha, já devia saber, pelo Quim...
Bonita como só ela o sabia ser, imortal, intemporal, como uma visão...
Ainda mais bonita do que me lembrava...
Ainda mais mulher do que imaginava...
Com um olhar mais meigo que apetecia...
Olhamo-nos durante tempos sem fim, alguns segundos talvez, mas a mim pareceu-me uma vida, 20 anos, para ser mais exacto...
Ia começar a falar, mas não deixei e comecei eu...
- Sei que tudo o que diga, de nada serve, pois não há desculpa, para o que se passou...
Para o que fiz...
Ou para o que não fiz...
No entanto aqui estou...
Voltei a pensar em ti...
Voltei para ti, mesmo antes de saber...
Mas agora já sei, e de um modo ou de outro, ninguém mo tira mais...
Entre ontem e hoje, vivi 20 anos, com uma intensidade que não sei descrever, só sentir, e talvez exprimir...
Fiz isto para ti esta noite...
Chama-se: Renascer...
Escuta por favor...
As vizinhas calaram-se, boquiabertas...
Virei-me, estarrecido, gelado, embrutecido. Não queria acreditar! Era o...
- Quim?
- Sim Carlos sou eu...
- Mas... - ainda estava atordoado e tornei a desmaiar...
Quando acordei, recordei o cheiro, o espaço, o calor, da lareira...
Estava deitado no sofá, que conhecia bem, sentado numa cadeira a olhar para mim, o meu melhor amigo de infância, o Quim. Andamos sempre juntos, e embora ele fosse mais novo que eu 4 anos, sempre o considerei como um irmão. Aprendi tudo contigo Carlos, costumava dizer, mas na verdade, eu é que aprendia muito com ele...
- Quim és mesmo tu? Mas como? Se ainda agora me disseram que não morava cá ninguém?
- Calma Carlos, com calma que eu explico-te tudo, tem paciência.
- Tens razão, desculpa, se há alguém que aqui tem que ter paciência sou sem dúvida eu...
E falou...
E contou...
Sempre me disseram que os sonhos são uma espécie de premonição, nunca acreditei. Até agora...
A Teresa sempre estava grávida, e teve uma menina...
Não se chamava Inês, mas sim Angelina...
O Quim sempre amigo, apoiou muito a Teresa, mas nunca deixou, tanto ele como ela que nada se passasse, respeito, por alguém que talvez não o mereça, pensei eu...
A Teresa tentou continuar a sua vida, e teve amores e desamores, acabando sempre por ficar sozinha, dizia que estava amaldiçoada contou o Quim...
Porém com o passar dos anos o Quim acabou por se afastar um pouco, e havia "reatado" à dois anos atrás, e ao deparar com a Angelina mulher, linda como a mãe, inevitavelmente, acabou por se apaixonar...
Casaram o ano passado...
E tiveram uma filha, Matilde...
Faz amanhã um mês...
E este ano decidiram vir passar o primeiro natal da Matilde à casa onde a mãe cresceu...
- As tuas prendas - disse o Quim - a tua filha, a tua neta e eu teu genro...
- Isto é demais para um homem só, - disse - aquele que há 20 anos destruiu a sua vida, agora sei isso...
- E a Teresa a Angelina e a Matilde onde estão? - perguntei
- Só chegam amanhã de manhã, foram à cidade, às compras e ao pediatra...
- Mas está tudo bem? - interrompi eu
- Está, consulta de rotina, não te preocupes... Agora vou-te deixar, pensa bem, amanhã falamos...
O meu quarto...
A minha vida, estava toda aqui, nos pedaços que uniam a casa, que transformavam tudo em lembranças, ali cresci, e é em parte aquilo que hoje sou...
Andei, passeei, revi, relembrei, reconheci...
À noite não tive sono, sentado no sofá da sala, olhei, e ali a um canto, estava ele, imponente como só eu o sabia ver, o piano onde tantas vezes me perdi e sonhei...
Abri a tampa, à parte de uma ou outra corda não muito afinada, continuava com o som que sempre teve, e embora há já 20 anos que não tocava, as notas começaram a sair...
O tempo passa, mas o que realmente importa é imortal, não desvanece, nem ao magistral tempo...
Encontrei folhas pautadas, velhas mas vazias e comecei a escrever...
Velhas notas, mas sem idade, novos sons, com o tom dos que sempre soube, dedos velhos, mas ainda não mortos, melodias passadas, com ouvido no tempo...
Compus toda a noite...
Adormeci, no sofá com o nascer do dia...
Dormi umas horas, e acordei...
Fiquei ali sentado, parado, durante o tempo que não sei, a pensar...
Até que pela porta entrou a Teresa, sozinha, já devia saber, pelo Quim...
Bonita como só ela o sabia ser, imortal, intemporal, como uma visão...
Ainda mais bonita do que me lembrava...
Ainda mais mulher do que imaginava...
Com um olhar mais meigo que apetecia...
Olhamo-nos durante tempos sem fim, alguns segundos talvez, mas a mim pareceu-me uma vida, 20 anos, para ser mais exacto...
Ia começar a falar, mas não deixei e comecei eu...
- Sei que tudo o que diga, de nada serve, pois não há desculpa, para o que se passou...
Para o que fiz...
Ou para o que não fiz...
No entanto aqui estou...
Voltei a pensar em ti...
Voltei para ti, mesmo antes de saber...
Mas agora já sei, e de um modo ou de outro, ninguém mo tira mais...
Entre ontem e hoje, vivi 20 anos, com uma intensidade que não sei descrever, só sentir, e talvez exprimir...
Fiz isto para ti esta noite...
Chama-se: Renascer...
Escuta por favor...
- // -
E pronto, vai continuar aqui no aspirante a humano...
16 comentários:
Wolfie... Ganda Malhonga! Tou sem palavras, juro!
Obrigada.
Não te posso dizer mais nada.
=)
Ainda bem que já tens piano...
O desenovelar da história, está demais, MESMO... E o nome de Angelina, bem... já sabes...
Beijinhos
Esmeraste-te!!!
Afinal o pesadelo sempre era meio a sério! Mas devolveste a esperança ao Carlos.
Agora, o que eu gostei mais, foi da tua composição! O primeiro conto partilhado com banda sonora original!
Fantástico!
Um abraço e FELIZ NATAL!
Valha-nos Deus!!! Quantas vezes mais ainda irá desmaiar o nosso pobre Carlos?! lol
Mais uma reviravolta estonteante neste Natal que se adivinha alucinante para o Carlos...
Lovely soundtrack! loved it!
Lobo,
O teu post não precisa de comentários.
A tua música fala por mim...
Obrigada pelo teu tempo e obrigada por... tu sabes!
Este "renascer" arrepiou-me a alma...
:)
Este Carlos precisa de ir ao médico... Será que aguenta até ao fim da história?
Óptima continuação.
Coitadinho do Carlos... lá tinhas tu que "ressuscitar" aquele povo todo...
A tua música... Uau! Parabéns!
Um big crazy christmas kiss...
Olá Lobo,
Quero desejar-te um Santo Natal, cheio de paz, amor, saúde e alegria!
Tudo de bom para ti!
Beijinho
Boas Festas Lobo...
Obrigada pela amizade blogoesférica... que este Natal seja fantástico e que 2008 seja melhor!!!
Um beijinho louco... e musical!
PS - Há presente no meu canto... podes ir buscá-lo! ;)
Reviravolta ' Wolf Way '... quanto ao resto, I mean, the soundtrack .... f...........-se, Wolfie .... dois cigarros e dois cafés a 'restarting ' !!
Bom Natal, amigo! Com muita música dentro de ti! =)
Já vim cá ouvir-te várias vezes, perdoa-me mas por muito bom que o teu texto seja, a música supera tudo. Adorei ouvir e re-ouvir e vou continuar a vir por cá para te ler, mas certamente para te ouvir de novo. É possível mais música?
Um beijo enorme porque realmente quem toca assim e partilha merece!
Olá amigo,
Desculpa não ter passado por aqui antes...Coisas do Natal...
Simplesmente divinal..., para além do "kit de Unhas" para o Kart, tens outro "kit de dedos" e uma sensibilidade na forma como tocas, que realmente deixas os teus amigos sem palavras...
Como alguém já escreveu...Quando teremos a próxima?....
Grande abraço
Oooopsss...!!!!
Já me estava a esquecer...
De "aspirante" não tens nada...és um ser humano do melhor que há...
Abraço
E um muito mesmo obrigado a todos!
Assim sim, vale!
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